Sobre a obra
Alexandre Staut se define como um pintor de paisagens. Sua obsessão pela cor “terra verde” — pigmento que atravessa toda a sua produção — funciona como uma espécie de solo simbólico, a camada primordial de onde suas imagens emergem. A partir de paisagens reais da Serra da Mantiqueira, região onde nasceu, o artista constrói aquilo que chama de “paisagens mentais”: espaços situados entre a lembrança, a sensação e o inconsciente.
Suas telas, geralmente de pequeno formato, recebem uma preparação tradicional seguida por uma camada de fundo — terra verde, siena queimado, marrom ou amarelo de Nápoles — que cria uma atmosfera subterrânea e dialoga com a pintura final.
O interesse de Alexandre está na tensão entre o visível e o oculto. Após uma experiência espiritual em 2021, sua pesquisa passou a incorporar a ideia de que toda paisagem contém algo que não se revela de imediato. Para ele, a pintura é o lugar onde esse limiar pode ser percebido.
Em seus céus a óleo, aplicados com véus finos de tinta misturada à cera de abelha, o artista deixa transparecer camadas internas, como se houvesse ali uma presença em suspensão. Nas bordas inferiores das telas, seringueiras, araucárias e outras árvores surgem da “primeira queima” e, muitas vezes, são lixadas até se tornarem figuras-fantasma. Essa operação cria um espaço onde aparência e essência oscilam.
Ao lado dessas paisagens menores e de tonalidades mais contidas, Alexandre desenvolve também uma série de pinturas de maior formato, realizadas em óleo e cera sobre linho, em que aprofunda uma investigação centrada no azul. Nessas obras, a cor aparece de maneira mais saturada, funcionando como campo e matéria. O azul, ora mais denso, ora mais aberto, conduz a composição e cria zonas de concentração que estabelecem um contraponto à escala íntima das telas menores. Essa série amplia sua pesquisa sobre presença, profundidade e o que se mantém velado na paisagem.
Alexandre dialoga com o romantismo europeu do final do século XVIII e, no Brasil, inspira-se em Miguel Bakun, além de se interessar pela pintura espontânea dos artistas da Praça da República, em São Paulo.
Participou do Coletivo Apenas (2021); do Projeto Vitrine, na Galeria das Artes (2022); expôs suas telas na Casa Yara DW, em 2025, na mostra “Se fosse um verde vivo” e, ainda em 2025 participou da primeira Feira de Arte do Atelier Tinta, espaço da artista Roberta Segura na Santa Cecília.